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Uma Sociedade sem Senão

dezembro 31, 2010

Neemias Félix

Se havia uma palavra que me fazia medo quando criança, essa era o senão dos meus pais e professores. Quando ela era pronunciada, podia-se esperar no mínimo uma boa reprimenda oral, passando por uns bons tabefes e, no máximo, uma bela surra. Nessa época não tínhamos adentrado a era do trauma, que só vim a conhecer quando comecei a lecionar, na década de 70.

O mais interessante é que sou o nono filho de uma família de dez irmãos. Todos ouvimos inúmeros senões, tanto de pais quanto de professores, todos levamos tabefes da mamãe e surras do papai e ninguém ficou traumatizado. Se houvesse mesmo essa coisa de trauma, eu seria o mais afetado, já que levei a primeira e única surra do papai aos seis anos e, além de tudo, injustamente.

 

Valeram os senões. Tenho uma família de irmãos maravilhosos, homens e mulheres de bem, honrados, sem nenhum trauma, que sempre honraram seus pais quando estes estavam vivos e hoje ainda honram a sua memória.

 

Crescemos com o senão em nossas mentes, levamo-lo para a escola e outras áreas da sociedade. Era a época em que os alunos respeitavam os professores, senão seriam punidos; tínhamos um respeito quase medo da polícia, senão poderíamos ser presos e isso era uma vergonha para nós; pelos juízes e promotores, então, tínhamos mais que reverência, um verdadeiro temor. Era natural que respeitássemos também os mais velhos, alguns até tomavam bênção a eles.

 

Mas, é claro, os tempos eram outros. Não havia trauma, como já disse, nem ECA nem o pessoal dos direitos humanos para nos para nos ajudarem nas nossas “reivindicações”. Realmente não sei como sobrevivemos naquela época tão violenta sem essas entidades tão importantes, não é mesmo? Talvez por isso hoje o mundo ande assim tranqüilo, sem garotos nas ruas fumando crack, sem violência infanto-juvenil, sem alunos peitando e agredindo professores, sem prostituição por todo canto.

 

Vamos deixar de ironia e hipocrisia! Uma sociedade sem senão é uma sociedade permissiva, com frouxidão de costumes, pusilanimidade de leis, sem temor a Deus e às autoridades constituídas, perdida nos labirintos da sua própria devassidão, sufocada no vômito da imoralidade e no sangue do haraquiri da sua própria covardia.